quinta-feira, 21 de novembro de 2013

CCC – Canais Curtos de Comercialização. Estratégia para o desenvolvimento rural sustentável e uma dieta saudável. (2)




O modelo da produção agropecuária industrial depende de uma matriz tecnológica de custo crescente com forte orientação produtivista. É um modelo que visa principalmente a produção de grandes quantidades de produtos homogêneos, que são essencialmente matéria prima para uma indústria de processamento em grande escala ou uma distribuição sinalizada pela concentração empresarial.

Esses insumos de custo crescente são produzidos por um pequeno número de empresas multinacionais, com capacidade para estabelecer os preços para os agricultores e pecuaristas. Para agravar a situação devemos considerar a forte dependência de fontes de energia fósseis dessas produções industriais (fertilizantes, pesticidas, máquinas...) que nos últimos anos estão vendo aumentar os preços pelo duplo efeito da subida dos preços do petróleo e o poder oligopolista dessas empresas.

Ao controlar o mercado, tanto a indústria de alimentos quanto a distribuição comercial têm o poder de impor preços mais baixos. Agricultores e pecuaristas ficam assim presos no âmbito sócio-institucional  e econômico do sistema agroalimentar globalizado que promove a destruição da diversidade cultural e biofísica associada aos agro-ecossistemas  tradicionais e métodos de manejo dos cultivos agrícolas e a pecuária local.


Para tentar reduzir os custos e aumentar a receita num contexto de preços decrescentes apenas pode ser conseguido através do aumento da produção. A redução de custos, devido à rigidez e dependência tecnológica e à incapacidade de negociar perante a indústria de insumos, concentra-se na redução de mão de obra assalariada e / ou na superexploração dos trabalhadores. A deterioração social vai assim, bem ligada à deterioração ecológica, fechando o circulo vicioso do produtivismo na agricultura moderna.

Além das estratégias individuais de resistência silenciosas, nos últimos anos, começam a aparecer novas estratégias coletivas de resistência dos agricultores e pecuaristas à crise em aliança com grupos de consumidores. Como resultado está-se criando novas redes de abastecimento de alimentos, que caracterizam pelo caráter coletivo e cooperativo e pela redefinição dos mecanismos de comércio em favor dos agricultores e pecuaristas de um lado e os consumidores do outro.

A crise das vacas loucas, os frangos com dioxinas, o uso indevido de antibióticos e hormônios no crescimento dos animais, a utilização de aditivos potencialmente cancerígenos são alguns dos escândalos e controvérsias que tem impulsado a crescente desconfiança cidadã em torno à alimentação  que está inserido em um processo social mais amplo de descontentamento generalizado em relação à política institucional .

Esse descontentamento impulsa a criação de redes cujo objetivo é reconectar a produção e o consumo de uma forma mais direta, com novos critérios de qualidade e mecanismos de confiança. Nessas redes convergem pessoas que procuram vias alternativas para aceder à alimentação e produtores que fogem das pressões da globalização alimentar.

O consumidor é olhado como o individuo que interage com o mercado movido por  motivações individuais, tais como a qualidade, confiança, sabores, cuidado com o médio ambiente etc... A informação, transparência e proximidade com o produtor tornam-se itens essenciais. Assim as novas redes atendem as necessidades dos produtores, tanto quanto as demandas dos consumidores em relação à alimentação.

Dimensão técnico-produtiva da Agroecologia
A agroecologia propõe uma abordagem alternativa à ciência convencional para a análise dos agroecossistemas, sistemas agroalimentares e desenvolvimento rural. Buscar sistemas o mais autossuficientes possível, que utilizem a energia de forma eficiente, minimizem a entrada de insumos externos e sejam autorregulados de forma similar aos ecossistemas naturais é prioridade. Não se buscam altos rendimentos senão a optimização integral do sistema,(Altieri, 1999) tanto na concepção ecológica quanto na concepção econômica, cultural, social e politica.

No processo de conversão para agrossistemas sustentáveis, é preciso estabelecer alguns princípios guias:

  1. Reduzir o uso de energia e recursos. Utilizar fontes de energia renováveis em vez de fontes de energia não renováveis.
  2. Deslocamento do manejo de fluxo de nutrientes ao manejo de reciclagem de nutrientes, com dependência crescente nos processos naturais, tais como a fixação biológica do nitrogênio e as formações de micorrizas.
  3. Usar métodos que potenciem as qualidades dos ecossistemas; estabilidade, resistência à perturbações, optimização dos processos de reciclagem de nutrientes, diversificação estrutural e funcional.
  4. Eliminar o uso de insumos de origem humano, como os pesticidas, externos ao sistema, que sejam potencialmente daninhos ao médio ambiente e à saúde dos agricultores e consumidores.
  5. Manejar as pragas, doenças e ervas espontâneas  com visão ecossistêmica em vez de eliminá-las ou controlá-las com agrotóxicos.
  6. Restabelecer as relações biológicas que possam acontecer naturalmente no ecossistema em vez de reduzi-las e simplificá-las.
  7. Incentivar a produção local de alimentos adaptados às condições ambientais e culturais e modelos de cultivos em harmonia com a paisagem.
  8. Valorar a saúde do agroecossistema na sua totalidade e não só de um cultivo em particular.
  9. Enfatizar a conservação do solo, água, energia e recursos biológicos.
  10. Reduzir os custos e aumentar a viabilidade econômica.
  11. Incorporar a ideia de sustentabilidade no longo prazo, no desenho e manejo geral do sistema, pensando na comunidade e no âmbito social. 
(Continua no próximo post)

     

Nenhum comentário:

Postar um comentário